Puta que pariu o desemprego

De repente, começo a ver a minha vida a andar para trás. Simultâneamente, vejo-a a andar para a frente. Parece contraditório, e de certa forma é, mas a minha vida está a andar para a frente num campo e para trás noutro. É como esticar um elástico: uma ponta vai para um lado e a outra para outro.

Estou desempregado há uns tempos. Ando a ver se arranjo trabalho, mas não consigo nada. Isto está de tal forma que estou a começar a desesperar. Ainda hoje fui ao IEFP e não havia nenhuma proposta para a minha área de formação, nem para outras em que eu pudesse trabalhar. As únicas de que me falaram eram de hotelaria, mas essa é uma área que a mim não diz nada e onde não tenho qualquer conhecimento. Também duvido que alguém me desse emprego num café ou restaurante, porque tirar cafés em casa não é curriculum suficiente, principalmente quando, na maioria das vezes, pedem pessoas com experiência.

O resultado do meu desemprego é a falta de dinheiro e um desânimo cada vez maior da minha parte. Tenho que estar sempre a pedir dinheiro aos meus pais, e isso não ajuda nada a outra parte da minha vida que está a andar para a frente: a sentimental. Não ter dinheiro faz com que me seja muito difícil sair com a Vanessa, oferecer-lhe alguma coisa, até ir tomar café com ela. Bem diz o povo que, quando não há dinheiro, não há vícios; nem saídas com a pessoa que amamos, e quando as há, é com dinheiro dado pelos pais.

Como se não ter trabalho, e consequentemente dinheiro, já não fosse mau o suficiente, vejo nas notícias que o número de inscrições no IEFP ascendeu às 700 mil, só em Janeiro. Agora, ainda me é mais complicado arranjar trabalho. Quero começar a orientar a minha vida - ter as minhas coisas e começar a construir uma vida com a Vanessa - mas assim... Como raio é que o vou fazer?

Estou desanimado e cada dia me sinto um pouco mais em baixo. Não consigo arranjar trabalho, e ainda por cima vejo a Vanessa ir-se abaixo por causa do estágio e não vejo forma de a conseguir ajudar a superar isso. Sinto-me na merda. Custa-me estar assim e ainda me custa mais ver a mulher que amo triste (e tenho medo que a minha situação prejudique a nossa relação). Sinto-me como um pedaço de salsa que está a ser cortado para fazer um prato: corta, corta, corta, até ficar em pedacinhos muito pequeninos e insignificantes.

publicado por brunomiguel às 17:16 | link do post