Carta aberta ao Ministério da Educação

Prezada Ministra da Educação e prezados Secretário de Estado Adjunto e da Educação e Secretário de Estado da Educação;

Após leitura de um artigo [1] publicado na edição online do jornal O Público sobre a alegada ilegalidade dos registos electrónicos dos objectivos individuais dos professores, fiquei curioso em relação à plataforma e decidi visitá-la, mesmo não sendo professor. Encontrar o endereço foi relativamente fácil; já o mesmo não posso dizer do acesso a ela.

Quando tentei visitar o site, foi "presenteado" com uma mensagem de erro [2] devido ao browser que estou a utilizar. Ora, o browser que uso chama-se Icecat, actualmente na versão 3.0.4, e é um clone do Firefox 3.0.0.4; entre ele e o Firefox, para além do nome, muito poucas diferenças há, e um site que é mostrado correctamente num é mostrado correctamente no outro. Estou a usar este browser numa distribuição do sistema GNU/Linux chamada gNewSense.

Na mensagem de erro que referi é-me sugerido a utilização do Internet Explorer e afirmado que ele é usado «por mais de 90% dos internautas». Esta sugestão deixa-me estupefacto, pois não consigo perceber como uma instituição pública pode sugerir dictatorware - leia-se, software proprietário/nocivo, contrário a todos os valores democráticos. A estupefacção fica maior com a mentira que segue a sugestão: a utilização deste browser «por mais de 90% dos internautas». Queiram saber vossas excelências que este browser proprietário é, de acordo com um relatório [3] da Xiti Monitor, utilizado apenas por 60% dos europeus - um número que continua a diminuir a cada mês que passa.

Na mesma mensagem de erro é também sugerido o Mozilla, uma «suite Internet por excelência». O problema é que esta suite agora se chama SeaMonkey e já não está sob a alçada da Mozilla Foundation (apesar desta dar algum apoio ao nível legal a este projecto), como poderá verificar quando clicar na link [4] da página de erro que foi criada para a Multi Plataforma DRGHE. Seria bom que estes pequenos detalhes fossem verificados antes da colocação do site online. O facto de algo tão trivial como isso não ter sido feito faz-me pensar que outras coisas também podem ter ficado por verificar nesta plataforma.

Outra sugestão... estranha é o Netscape, um browser que, curiosamente, teve o seu desenvolvimento descontinuado há alguns meses. A sua utilização poderá pôr em risco quem o usa, tal como usar o browser proprietário que sugerem no início da mensagem de erro.

Posto isto, gostava de agradecer a vossas excelências por me tratarem como um cidadão de segunda. É "bom" saber que só quem usa determinadas aplicações é que pode aceder a alguns sites do Governo, e que interoperabilidade, tão recomendada pela União Europeia, é um conceito desconhecido por quem desenvolve e/ou autoriza estas aplicações web.

Atenciosamente;
Bruno Miguel

[1] http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1350642&idCanal=58
[2] https://concurso.dgrhe.min-edu.pt/DefinicaoObjectivos2008/(S(mwwzjzy0ousdpbv0is4jtd45))/browser.aspx
[3] http://www.xitimonitor.com/en-us/browsers-barometer/browsers-barometer-september-2008/index-1-2-3-145.html
[4] http://www.mozilla.org/products/mozilla1.x/

publicado por brunomiguel às 21:13 | link do post