Quanto custará a verdade?

Hoje, quando abri a caixa de correio para ver se o carteiro tinha deixado correspondência, encontrei um folheto [1] que, pelo que ouvi dos vizinhos, deve ter sido deixado por um grupo de testemunhas de jeová que andou de porta em porta por estes lados, durante a manhã. Foi bom eles terem deixado o panfleto de manhã, enquanto eu estava a dormir, porque se estivesse acordado dizia-lhes o que realmente penso da religião e ainda acabava a levar com água benta e cruzes em cima do lombo.

Bem, como o panfleto já cá estava e o autocolante do «Publicidade, aqui não» já desapareceu por causa da chuva, decidi dar uma vista de olhos ao seu conteúdo. Qual não é o meu espanto quando vejo que o panfleto diz ter a verdade sobre «algumas das perguntas mais importantes que a pessoas fizeram». Essas «perguntas mais importantes que as pessoas fizeram» são:

  • «Será que Deus se realmente se importa conosco? [sim, é assim que está escrito no panfleto]
  • A guerra e o sofrimento acabarão algum dia?
  • O que acontece depois da morte?
  • Há alguma esperança para os mortos?
  • O que preciso fazer para Deus ouvir as minhas orações?
  • Como posso encontrar a felicidade?»

A primeira coisa que pensei foi: «Eh, lá, queres ver que eles sabem A Verdade?». Comecei rapidamente a ler a primeira página do folheto, para saber A Verdade, mas comecei a desconfiar disto quando li que a verdade estava na bíblia. Depressa passei do «Vou saber A Verdade, vou saber A Verdade! Trá lá lá lá lá lá» para o «Queres ver que me estão a tentar vender qualquer coisa?!». Mesmo assim continuei a ler e vi que a resposta às «perguntas mais importantes que as pessoas fizeram» estavam nas duas páginas seguintes, mas sob a forma de breves citações da bíblia. «Ah, carago», pensei eu, «eu quero as respostas completas». Mesmo assim, segui para a quarta e última página, na já vã esperança de poder saber as respostas às «perguntas mais importantes que as pessoas fizeram». Nesta última página dizem que as respostas completas às «perguntas mais importantes que a pessoas fizeram» estão na bíblia e remetem-me para o fundo da página, onde está um talão que tenho que enviar para receber um livro que explica a bíblia, que quase de certeza é pago, e um curso bíblico gratuito (que já deve estar incluído no preço do livro) . O meu grande medo confirmou-se: o folheto, para além de não ter as respostas às «perguntas mais importantes que as pessoas fizeram», ainda me tenta impingir um livro. E para que raio quero eu uma livro? Eu tenho lenha suficiente para dois Invernos.

Vá, antes de me insultarem por ter escrito que a única utilidade dum livro sobre a bíblia é fazer chama numa fogueira, tenham em conta que eu não gosto nem quero receber este tipo de publicidade na caixa de correio e fico bastante irritado quando a recebo. E eu também sei que um livro sobre a bíblia pode ser útil para uma mesa ou uma cadeira com uma perna pequena, ou para chegar ao topo daquela estante que é só «um bocadinho assim» alta demais. Há quem diga até que é bom para atirar à cabeça dos assaltantes, mas ainda não tive oportunidade de experimentar isso porque felizmente ainda não fui assaltado.

[1] ver imagem 1 e imagem 2 do folheto

publicado por brunomiguel às 02:34 | link do post | comentar